Fúria
do Lat. furia;
s. f., acesso violento de loucura; braveza; cólera; ira; sanha; raiva; inspiração; estro; entusiasmo; fervor; pessoa furiosa; mulher desgrenhada; (no pl. ) divindades infernais, na mitologia pagã.
“Não acha amizade e amor sentimentos muito próximos, complementares até?”
Por que ele falava daquilo? Éramos amigos de antes da puberdade. Nunca tínhamos conversado sobre amor, era um assunto muito idiota pra se conversar com um menino, apesar de eu me sentir meio menino depois de tanto tempo. E, súbito, ele tomava a iniciativa e me falava sobre amor, amizade, com um intuito que me pareceu muito claro. Demorei pra responder.
“ Então, Iza, não acha?”
“Não sei nada sobre amor.”
“Eu te ensino.”
Achei ousado, principalmente quando tentou me beijar logo depois. Calou-se quando o afastei com a mão, já não tinha nada pra falar. Estávamos ali aproveitando o constrangimento para medir nossa paciência. Senti, tardiamente, que tinha feito merda. Amizade e amor são complementares, só então eu entendia. Arranquei uma grama. Foi muito rápido, a culpa era dele, não soube me dar um tempo, engolir tudo aquilo.
“Que merda, Iza!”
Levantou e foi pra casa. Acompanhei toda a caminhada, então uma tristeza finalmente me invadiu. Atinei que queria sim, que ele fazia falta e, de hoje em diante, se não me olhasse mais nos olhos, eu já não saberia distinguir a poesia da vida. Fazia uma grande previsão desconfortável pras próximas semanas.
No outro dia, no entanto, me olhou nos olhos. Ele ainda me amava, só não falava mais sobre isso.