sábado

Matei um homem no caminho para Chihuahua


Eu dirigia. A estrada traçava um limite entre duas vastidões e seguia reto ambiciosamente. Estava atordoado com as ondulações, elas me ninavam sob o silvo intermitente do vento que chicoteava o carro. Uma nuvem me chamava atenção no céu. Vi uma árvore, um cavalo. Corri quilômetros entre os dois. Quando me dei conta, estava fora da estrada. O homem jazia como um graveto no chão, o olhar grave, a boca molhada de sangue. Devo ter pego ele a cem, cento e vinte quilômetros por hora. O carro também não ficou em boas condições, e só então notei que tinha várias escoriações nas mãos e vertia sangue da sobrancelha no olho esquerdo. Tentei estancar o corte grande e fui ver o homem. Não havia muito o quê fazer.

O povoado era menor do que eu esperava e ainda mais pobre. Não havia oficina. Sentei-me a um balcão e pedi uma tequila. Queria saber onde poderia consertar o carro. Me indicaram a próxima cidade, há cinqüenta quilômetros. Pedi outra. E a rota 16? Riram. Na terceira tequila acabei descobrindo que sequer havia um lugar pra dormir ali. Só então me perguntaram o que havia acontecido. Atropelei um coiote. Assobiaram: mala suerte.

Fui ter com o velho curandeiro. Nem quis saber dos cortes, mandou que bebesse algo de uma cumbuca e espalhou uns ossos pelo chão. Então disse que mentia e que jamais chegaria a Chihuahua porque havia matado um homem. O deserto vai te engolir, ele disse. Não há muito o quê fazer. E que é isso que eu bebi? Água, você está bêbado.

Bem, o que você me aconselha?

No seu lugar, eu tentaria o próximo ônibus para El Colorado.


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E só por desencargo de consciência: 1) eu ainda não comecei a seguir as novas regras - tô esperando atualizarem o word, 2) eu não faço a mínima idéia de onde fique Chihuahua além do óbvio: México.