Conheci um skinhead perto da Paulista
Não sei que horas eram, mas já era noite. Sabe aquela parada pra beber cerveja num boteco? Então, tava lá eu com meus amigos e tinha esse careca tirando onda com os garçons. Achei engraçado, ele notou e veio puxar conversa. Lá pelas tantas:
“... é que eu sou skinhead.”
Gelei. Não que eu seja punk nem nada, mas vai saber? É como andar na beira do desfiladeiro. Tentei me segurar não demonstrar medo e falei:
“ Isso aí é vodka?”
“É, com casca de limão.”
“Dá um gole.”
São_Paulo.zip
São Paulo, pra mim, é uma cidade de túneis. Pode parecer uma metáfora à criação da vida, à renovação autofágica da cidade grande cheia de crianças e mortos. Mas falo simplesmente dos metrôs, dos trens subterrâneos que chegam gemendo a cada três minutos sem parar e da multidão de zumbis em procissão de um lado pro outro, da Paraíso pra Brigadeiro, da Barra Funda pra Sé. Passei a maior parte do tempo em trânsito por esses túneis, atravessando lapsos de pensamento hipnotizado pelo tetlec dos trilhos, o barulho engraçado que caminha pro final do vagão.
Não há experiência de paisagem, de ver as coisas passando, só uma parede que corre e se transforma numa nova estação. De repente, já é a Paulista, ou a 25 de março, a praça da Sé. Os metrôs comprimem a cidade em espaços nulos de paredes viajantes, de cabos, de lugares que não existem na lembrança do passageiro. É a maravilha do mundo comprimido em zip.