terça-feira

No ônibus.

Você sentou no meu lado, como há muito, e por um instante pareceu querer o passado, mas só estávamos sozinhos e só isso. Estiquei o fone direito e você plugou no seu ouvido, a música fluiu em ambas as direções, não como uma ligação entre nós dois, mas um algo externo que compartilhávamos.

“Costumávamos nos sentar lado a lado.” – você disse e seu braço deslizou no meu instintivo-acidentalmente. “Mas agora você senta aí sozinho e tem todas as mulheres disponíveis e todas as possibilidades tão disponíveis como nada que possa nos aproximar.”

“Se for assim, você também está disponível.”

“Tudo é tão lógico, não?”

“Não, há tudo o mais que não faz sentido e não pode ser dito. Você está bem?”

“Sinto uma dor nas costelas, como se curvassem pra dentro.”

“Volte a respirar porque assim você se infla e elas voltam pro lugar, voltam a serem costelas. E tente parar de se culpar.”

“Nesse caso, vou ter que te culpar.”

O ônibus pára, o fone cai no banco, poc, e ela desce deixando pegadas sonoras no chão de lata. Tudo vibra e acelera pra longe, conversas e silêncios metálicos, um parafuso solto deixando o engate bater, a porta abrindo de assalto, um pulo breve na calçada e uma formiga que morde silenciosamente meu tornozelo.

6 comentários:

  1. é, tá bacana. mas existem melhores. a merda é que nunca consigo não gostar de um texto teu.

    e acho que o problema da tirinha foi resolvido.

    ResponderExcluir
  2. Anônimo4:32 AM

    A merda é que eu nunca consigo gostar de ti.

    ResponderExcluir
  3. Tô sabendo.

    Tá bonito, Chico, mas arranja tempo pra atualizar isso aqui!

    ResponderExcluir
  4. droga, postei com o errado.

    ResponderExcluir
  5. Anônimo3:27 PM

    tá simples, e bonito.

    ResponderExcluir
  6. lindo*, ser simples basta, tá vendo?



    *exceto a parte das formigas, tenho medo delas.

    ResponderExcluir