sexta-feira

Título

Era uma vez um garoto que queria ser escritor, mas ele era muito preguiçoso, então seus contos ficavam muito curtos. Sua professora de redação vivia lhe dizendo: "No mínimo vinte linhas", ou "Hoje vamos nos esforçar, trinta linhas." Não dava.
Um dia, desanimado, o garoto passou por um cinema ao voltar pra casa. Um cartaz na frente dizia: "Hoje mostra de curtas nacionais." Pensou com seus botões que se existia gente que não conseguia escrever um filme grande e mesmo assim fazia sucesso, ele faria com contos curtos. Isso mesmo! Seria o fundador de uma nova escola literária, os curtistas.
Seu sonho não durou muito. Ao chegar em casa, leu numa revista que alguém já tinha lhe roubado a idéia. Os canalhas tinham, inclusive, a capacidade de escrever contos com quatro linhas.
Pensou então que poderia inovar fazendo algo espetacular, como uma bola gigante de chiclete. Em menos tempo ainda descobriu que, de fato, também já tinham feito isso.
Indignado, não quis pensar em mais nada. Chegou a conclusão que todas as idéias boas, e muitas bastante ruins, já tinham sido roubadas. Inclusive essa.
No final, fez um blog e se formou em matemática.

quarta-feira

Homens

Foi no terceirão que eu conheci a Maysa.

Sim, essa é uma história de paixões frustradas, intelectuais precoces tímidos e planos idiotas. Não consegui fugir do ordinário.

Foi no terceirão que eu conheci a Maysa.

Porra! Como eu ia deixar de escrever uma história sobre a Maysa? Ela tinha aquele jeito, sabe? Tipo campanha do sabonete Lux - "eu sou uma diva!" Era, simplesmente, irresistível, principalmente pra uma criatura mal-formada que ainda sofria com os resquícios da puberdade como eu.

E eu era um cuzão. Talvez ainda seja um pouco, mas na época era cabal: um baita cuzão! Só o fato de me sair bem nas matérias já era motivo suficiente pra me crucificarem de cabeça pra baixo - e eu tenho certeza que era o plano pra formatura. Imaginem vocês qual era a minha esperança de um dia conversar com aquela montanha de status? Aliás, talvez aí more um dos segredos da atração exercida pelas mulheres: status. Afinal, o que é uma Ferrari sem a loira do lado? Acho que o mundinho dos homens muitas vezes é raso como uma piscina de 1000 litros. Nem futebol, nem cerveja, nem carros, simplesmente mulheres. Quanto mais atraente, melhor.

Daí as pobrezinhas ficam se matando em salão de beleza, pedicure, manicure, cabeleireiro, chapinha japonesa, lipoaspiração - viram a nova técnica? - silicone, chega a dar dó! E o pior, dizem que não é pra nós - "Mulher se arruma pra mulher, homem nem nota!" Realmente, é tanta coisa que acaba fugindo do nosso universo. Mas, e a Maysa?

Pois é, tava lá eu sentado atrás da Maysa. Foi estranho, a primeira vez que ela prestou atenção na aula, simplesmente não se mexia. Já era quase metade do primeiro período, ela fez um movimento meio convulsivo, como quem vai virar pra trás e não vira. Confesso que fiquei meio nervoso. Sei lá, a proximidade podia estar deixando ela irritada, de repente nauseada. Mas não, ela virou pra mim, totalmente corada, e pediu minha borracha.

Pensei comigo: "Ãhn!?", mas emprestei. Não consegui falar nada, parecia um desvio na linha do tempo, uma nova dimensão. Que Maysa era essa, corada? Como assim, vergonha de mim, de falar comigo? Realizei que Maysa era tímida. Mais, ela gostava de mim - tadinha, devia ser o sol. De uma hora pra outra, então, Maysa tornou-se um ser ordinário. Caiu de quilômetros de altura para o meu nível. Porra! Apaixonar-se por um merdinha como eu? É muita baixeza. Maysa era menor que a tomada da TV.

No fim da aula, Maysa não devolveu minha borracha. Ela talvez quisesse que eu pedisse de volta, só pra poder falar mais um pouquinho comigo. Fui embora, mas não cheguei em casa antes de passar na papelaria.