quarta-feira

A viela sem fim

Melissa chegou as seis em casa. Jogou um cigarro na pia só pra ouvir o breve som agonizante da chama que se apaga. Pensou que a vida era como a chama do cigarro, mas afastou rapidamente qualquer outro pensamento funesto. Eram seis da manhã, seis da manhã, e tudo que restava era o prazer que talvez ela pudesse proporcionar a si própria.

Pegou seu celular e tentou olhar a vida sob os olhos míopes do aparelho. Era escuro como uma rua sem saída, como a viela infinita dos seus sonhos. Neles, ela corria sobre o cascalho com os sapatos nas mãos. Preferia não dormir a ter que sonhar novamente com a porra da viela.

Encheu o bule de água. Ia fazer um café pra não ter que dormir hoje. Pegava às sete e meia no trabalho, se caísse no sono fatalmente faltaria. Infelizmente, não havia pães na despensa – um armariozinho sobre a pia. Comer talvez fosse o grande erro, assim como passar a noite enchendo a cara e agüentando cantadas furadas na mesa do bar.

Durante esses anos todos, chegara a conclusão que nenhum homem era sincero, nenhum deles admitiria que só queria sexo. Por que preocupar-se? Por que não jogar o jogo? O bule chiava. Encheu um coador de café em pó enquanto aquele cheiro espalhava pela cozinha. Passou o café letárgica, sentou-se à mesa, adoçou e adormeceu pra sempre.

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