segunda-feira

Solidão

Continuando a série do casal mais pop desse blog, com vocês, Astolfo. Ele acaba de chegar em casa com aquela cara de bunda, de quem acaba de ser abandonado, e imerge cada vez mais em reflexões...

"Cadê meus cigarros?"

Bom, talvez ele não seja lá tão reflexivo. A verdade é que sente um vazio, como se um vácuo tivesse chupado seus orgãos internos num processo indolor e asséptico. Tofo olha para a rua na procura de, bem... Leila, mas só vê hidrantes, um cão, um cão mijando num hidrante, uma senhora, a calçada, pegadas na calçada, alguns prédios tapando o horizonte, e por aí vaí.

"A cidade deve ter sido evacuada. Leila deve ter levado todo mundo que ela conhecia pra casa e só deixou o cusco e a véia gorda. Maldade, ela nem é tão gorda. E se fosse gorda, qual o problema? Isso só ajuda no efeito "vovó me faz bolinhos".
Acho que a minha vó nunca abandonou meu vô. Os dois deve ter vivido felizes, ela subjugada em casa cuidando das crianças, ele fazendo farra nos puteiros da cidade. Era mais fácil ser homem naquela época, afinal, nem existiam Leilas. Ela não tinha nascido, sua mãe nem tinha queimado sutiãs na praça Argentina ainda. Huhu, se bem que ainda continuam queimando outros combustíveis na praça Argentina."

Tofo nunca queimou nada na praça Argentina. Já a mãe da Leila queimou um sutiã quando Jânio Quadros proíbiu o uso de biquínis. Ela quase foi presa por causa disso, mas era menor. Tofo não sabe nada disso, só especula. Traga o cigarro e volta a pensar em Leila.

"Eu devia ir atrás dela. Não, isso é ridículo. Imagina chegar na frente da casa dela e chamá-la. Leila nunca vai atender, aliás, vai chegar na sacada e me mandar à merda. Aí começa a chover e a ventar, minha voz fica rouca, eu desisto e caio fora. Amar é ridículo, estar apaixonado é ridículo. Será que eu tenho limões? Que mulher insensível, a Leila. Só quer me usar... olha o quê eu tô pensando!! Vou fazer uma caipirinha."

Ele normalmente se alcooliza pra não ter que pensar nessas coisas. É meio que um mal atual, alienar-se pra não ter que pensar. Bom, talvez nem seja um mal tão atual assim, só um mal. A verdade é que Tofo faz uma ótima caipirinha. Nem muito doce, nem muito azeda; não tem tanto álcool a ponto de descer queimando, nem tão pouco a ponto de não se sentir nada. Eleva a produção de uma boa caipirinha a condição de ritual, que ele realiza com calma. Enquanto isso, vai pensando.

"De qualquer forma, nem sei onde ela mora, tudo que eu tenho é o telefone dela. É, não vou telefonar pra ela: demonstra fraqueza. Vamos deixar assim... Será que ela volta? Se importasse tanto, ela não ia me deixar assim. Nos últimos meses - quanto tempo faz mesmo? - ela sempre voltou. Some, e depois volta. Ela só pode querer me deixar maluco. AArgh, Leila, fora da minha cabeça! Um limão, dois limões..."

Tofo chegou no centésimo limão e Leila ainda não tinha desistido.

5 comentários:

  1. Anônimo1:25 AM

    Sempre a caipirinha acompanhando o homem nesses momentos difíceis...
    O Astolfo, faz uma aí para mim!

    P.S.: tem q digitar uma frase para autenticar isso!

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  2. WELL...essa história de amor ser uma idiotisse...tô começando a acreditar nisso...Sei láh...as vezes acho tudo isso um esforço em vão...Será que o amor existe mesmo, amigo?Será que é apenas ilusão? (e que doce ilusão)

    Mais uma pergunta pra eternidade...

    Curtí o texto...

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  3. hahaahhah tmo bom mesmo os seus textos. Tipo .. agora to procurando os outros da série " Astolfo" - a bola da vez ...
    Abraços!!

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  4. Na realidade...Eu não tenho lido nada este ano...vadiagem total...
    Mas...oq um pé na bunda não faz com a criatividade das pessoas? rs

    É isso aí...um pé na bunda ao menos serve de inspiração...
    Um bucado de tristeza as vezes faz muito...

    Bjão pra tí, Chico

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  5. Anônimo5:26 PM

    Oi, li alguns textos que postaste no Blog, simplesmente ADOREI.
    Não se lembras de mim, sou a namorada do Bulla, hum...agora lembrou né?!
    Com certeza não perderei tempo, lerei todos os textos do seu blog são muito bons, alíais ótimos.

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