terça-feira

Astolfo

Não ouse ler esse conto sem antes ter lido o conto "O Casal"; afinal, a ousadia é característica do gênio.

Eu moro em Porto Alegre há bem uns seis meses, metade desse tempo gastei com Astolfo, que conheci no Orkut. É um garoto legal, meio idiota às vezes, mas foda-se, deve ser a idade. Começamos a nos escrever e em um mês ele me mandou uma poesia.

Nossa! Era horrível, pedante; comecei a achar que ele me amava. Sempre deve-se ter um pé atrás com os passionais porque eles acham que só por te amar merecem toda a devoção do mundo.
Ei! Não me venha com essa de Le petit prince, "tu te torna eternamente responsável por aquilo que cativas". O garoto mora num planetinha e é apaixonado por uma rosa dominadora, a história da cúpula de vidro e tal.

Eu sou dominadora, não nego, mas cupúla de vidro à puta que pariu!

Então, antes que ele me cercasse, decidi conversar a sério sobre nossa relação, decidir umas coisinhas. Os homens não são muito propensos a discutir a relação, sei lá, deve ter a ver com o passado patriarcal, mas a gente tinha que enfrentar a realidade. Depois da minha primeira separação o amor se tornou um sentimento meio efêmero, desmistificado, transitório e transferível. Hoje eu gosto é da intensidade, da abrasão, entende? Tipo sentir tudo de uma vez e partir pra próxima. Por isso eu precisava definir as coisas com meu principezinho, dizer pra ele que era pra valer, pelo menos pela duas próximas semanas. Algo meio Vinícios de Moraes, tipo a eternidade entre dois segundos consecutivos.

Utilitarista? Insensível? É foda. Tá o garoto aí, desolado, merdinha do caralho. Só tem uma solução: vou sumir por uns dias, assim ele acostuma.

Leila paga a conta. Tofo olha pras suas unhas, precisa cortá-las. "Fodão-se as unhas, essa filha da puta vai me largar"; é Tofo, a gente cai nessas às vezes. Os dois caminham quietos pela calçada cinzenta acompanhados pelas nuvens, por um cusco magro e por uma senhora gorda numa sacada. O cusco late como se por comida; a senhora tosse e pigarreia; as nuvens tentam descobrir "quem afinal é a cúmulus, quem é a nimbus?"; Tofo finge um cisco no olho; Leila puxa as chaves do carro. Ele queria ter um meteoro, queria fugir pra um outro planeta onde não houvesse Leilas. Ela abafa um "Tchau" nos dentes e se beijam. O gol solta um ronco e liga.
"Carro dos infernos. Mas tudo bem, ela volta... eu acho".

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Sobre o referendo:
http://www.verbeat.com.br/nosnarede/

10 comentários:

  1. Pois é...entendo esse negócio de efemeridade...nada é pra sempre nessa vida...

    Ando passando pela triste desesperança de me dar conta disso...na verdade faz tempo...mas nem sempre se quer enchergar...

    Mas a rosa a tempos machucou-me...mas o espinho teima em adentrar as carnes q um dia um verme há de roer...

    Sobra um vazio...]

    Legal...me identifiquei com o teu texto...

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  2. Anônimo3:04 AM

    Pois eu sou o Astolfo.
    Não se quer enxergar a despedida, porra dum caralho, mesmo.

    Chico teus textos se parecem comigo, agora, não gostei, antes eu teria gostado, mas é minha fase.

    Affffffff

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  3. Anônimo8:00 PM

    Por isso eu digo: ninguém deve ter ciumes de mim.
    Ninguém.

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  4. Anônimo4:23 PM

    Muito legal o tipo da narrativa, tipo verissimo, to com uma dúvida, tu ta passando pro papel as tuas experiencias ou ta formulando os textos?

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  5. Anônimo6:12 PM

    Hey! =D~
    Nao te conheço nem nada mas estava mexendo e encontrei teu blog intão resolvi deixar um comentario pra dizer que tu escreve mto bem e que teus textos saum muito bons mesmo...voutarei mais vezes...
    Beijos

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  6. Ei, me diga aí...
    homens que gostam de fazer DR?
    Onde estão eles?
    Onde?
    Beijos
    Clementine K.

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  8. Anônimo10:14 PM

    Estrela:
    Vai passar, beibi. Tudo passa.
    [oq?]

    Eu:
    Vou aí qualquer dia desses!

    Mel:
    Tudo nocê, bem feito! =D

    Kleiton:
    Muito esforço criativo, cara! Os personagens tem características de pessoas que eu conheço e de mim mesmo, mas não são reais.

    Fer:
    Ei, legal! Tu não sabe como isso é legal! Fiquei emocionado. Mesmo.

    Clementine:
    Na ficção, meu bem!

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  9. Já...já lí Augusto dos Anjos...eu adoroooooooooooooooooo muito bom...muito loko...
    Não me lembro de tu ter me perguntado
    e tu? gostas?

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  10. Gosto dos teus palavrões, porra do caralho! Gosto da maneira que tu escreve; não gosto dos erros de grafia e pontuação ...

    Mas eu existo (tá, eu posso ser ficção) e "gosto" de DR's! Porra do caralho, as aspas querem dizer "eu prefiro os R's que tem D's do que os q não tem...essa é minha experiencia, por isso acabo achando as DRs sempre proveitosas"

    Continua escrevendo, velho! Quero saber notícias do Astolfo!

    Abraxas

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