Ás vezes eu penso na vida sendo dirigida por uma sorte de poder divino, de entidade furiosa e canibal que, com os olhos vazios, devora toda a criação; a partir disso, todo poder criador é minado por essa criatura, tudo que se cria fadado a destruição. Talvez seja só o tempo.
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É carnaval
Não me diga mais quem é você
Amanhã tudo volta ao normal
Deixa a festa acabar
Deixa o barco correr ...
A multidão desce a rua já murmurante, extenuada. O que atravessou teus olhos? Já não há muito pra se ver dentro deles. O que poderia ter atravessado teus olhos? Volte a sorrir. Uma noite só, e já não acho em ti mais nada, a festa acabou e se vêem pelas ruas táxis e ônibus apinhados de gente bêbada, toda essa gente que agora precisa voltar e trabalhar porque essa cidade não vai se manter de pé sozinha, porque amanhã as vias precisam estar apinhadas de novo e é só cansaço que eu vejo em ti, esse tipo de tristeza que atravessa teu corpo.
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Como é teu nome mesmo?
Teobaldo olha pra ela, que parece querer adivinhar.
Teobaldo, não é? - ela acerta.
Quando foi mesmo que a gente se conheceu?
Acho que foi no carnaval. Tava com as minhas amigas. Parece muito tempo.
Tudo em volta do bloco, gente pulando, dançando. Eu já não dançava mais. Me virei pra trás e tu tava lá.
Tava legal o bloco.
O que tu anda fazendo?
Esperando o próximo carnaval.
Ela sorri.
***
Corri meus dedos pelo suor que brotava nas tuas costas e levei a boca. Era doce e salgado e quando já achava que não acabaria, minha boca secou de novo.
Hei, apareci! Belo texto, gosto de diálogos.
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